Após relato de transfobia, hospital federal do Rio recebe oficina de capacitação sobre diversidade

Brasil
Uma mulher trans relatou que foi abordada de forma desrespeitosa por uma enfermeira depois de usar o banheiro feminino durante a internação do avô. Tiffany Luiza Macedo
Reprodução
O Hospital Federal Cardoso Fontes, que fica em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, recebe nesta quarta-feira (22) uma oficina de capacitação para os profissionais de saúde sobre a importância do respeito à identidade.
Essa é uma medida de conscientização do Grupo pela Vidda, que recebeu o relato da Tiffany Luiza, de 29 anos, quando ela contou ter sido vítima de transfobia depois de usar o banheiro feminino da unidade durante a internação do avô.
Um dos intuitos da oficina é promover a inclusão de pessoas trans no ambiente hospitalar.
A própria Tiffany vai participar do evento como palestrante, e vai compartilhar seu conhecimento e trajetória para discutir maneiras de aprimorar o atendimento a pessoas trans, como o respeito ao uso do nome social e o não impedimento da utilização de banheiros.
O evento é aberto a profissionais de saúde, estudantes, e demais interessados
A denúncia
Tiffany Luiza Macedo de Menezes, de 29 anos, uma mulher trans, prestou queixa na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) por transfobia dentro do Hospital Federal Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio. Ela afirma que o episódio aconteceu após usar o banheiro feminino.
Tiffany estava acompanhando o avô, que ficou internado na unidade, e ao sair do banheiro foi abordada por uma enfermeira, que perguntou: “O que você é?”, conforme Tiffany conta.
Tiffany ainda andou pelo corredor com a enfermeira, que continuou com questionamentos invasivos sobre gênero e a levou para uma sala separada.
Lá, a enfermeira disse que meninas se incomodam com meninos no banheiro, e vice-versa, e ainda a questionou “qual lei garantiria que ela pudesse usar o feminino”. Ela chega a dizer que pacientes estariam incomodados com a situação.
“É isso que eu quero, dar essa resposta para a pessoa. Dizer: ‘Olha, ela tem o direito de usar o banheiro feminino. Porque dizem que você entrou porque eu deixei”, diz a mulher.
Tiffany diz que é possível ser reconhecida como uma mulher, mas a enfermeira responde que “Não, não, infelizmente não”.
Pouco depois, Tiffany responde: “Então você tem que questionar a assistente social do hospital para tirar essa dúvida, porque eu sou uma mulher trans retificada, com documento. Você me vê com o cabelo grande, uma roupa feminina, e quer me obrigar a usar o banheiro masculino?”.
“Eu tenho direito sim de usar o banheiro feminino, como todas as outras mulheres”, completa.
O Grupo pela Vidda tem prestado apoio a Tiffany e pretende sugerir que o hospital faça palestras para conscientizar os funcionários.
O que dizem as autoridades
O caso foi registrado como preconceito por raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. A Polícia Civil informou que “a autora será intimada e testemunhas serão ouvidas” e que o circuito de imagens de segurança será solicitado.
Em nota, a direção do Hospital Federal Cardoso Fontes afirmou que “não compactua com qualquer tipo de discriminação e que, em momento algum, foi notificada sobre o ocorrido”.
“O caso será encaminhado para a Comissão de Ética de Enfermagem da unidade, supervisionada pelo Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro , para esclarecimento dos fatos”, acrescentou a unidade.
Já o Departamento de Gestão Hospitalar do Ministério da Saúde no RJ, responsável pela gestão dos hospitais federais, também disse “repudiar” o ocorrido.
“O departamento vem debatendo sobre equidade e diversidade em saúde desde o início da atual gestão. As reuniões são realizadas sistematicamente com a participação de representantes dos hospitais federais e dos movimentos sociais, com o objetivo de discutir o tema e orientar os profissionais quanto à cultura de respeito pela diversidade e preocupação com o bem-estar da sociedade”, concluiu a pasta.

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