Caso Jamilly: técnica de enfermagem diz à CPI que médica não sabia qual dosagem de soro antiescorpiônico aplicar

Brasil
A técnica de enfermagem foi ouvida nesta quarta e disse que uma colega avisou a médica responsável pelo atendimento que havia soro na unidade. Fala contradiz depoimento da própria médica, que disse não saber da existência do soro na unidade. Jamilly Vitória Duarte, de 5 anos, morreu após ser picada por escorpião em Piracicaba (SP)
Arquivo pessoal
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que investiga o caso da menina que morreu após uma picada de escorpião em Piracicaba (SP), ouviu nesta quarta-feira (22) uma técnica de enfermagem da equipe que atendeu a criança.
Ela afirma que a médica responsável pelo atendimento disse que não sabia qual dosagem do soro antiescorpiônico deveria ser ministrada, que é diferente do que disse a própria médica à CPI.
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O caso ocorreu no dia 12 de agosto deste ano e a vítima é Jamilly Vitória Duarte, que recebeu o primeiro atendimento na UPA do bairro Vila Cristina, que é gerenciada desde o mês de julho pela Organização Social de Saúde (OSS) Mahatma Gandhi.
A técnica de enfermagem foi ouvida nesta quarta e, segundo o Legislativo, não autorizou a divulgação de seus dados pessoais, por isso não foi identificada. Segundo a profissional, uma colega avisou a médica responsável pelo atendimento que havia soro na unidade.
No entanto, a médica teria dito que não sabia qual dosagem teria que ser ministrada na criança e que já tinha acionado o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), para transferência da menina. O depoimento é um contraponto do que disse a médica, que afirmou que não sabia da existência do soro na unidade.
Com o depoimento desta quarta-feira, segundo o Legislativo, a CPI conseguiu esclarecer quem foi responsável pela preparação da medicação para Jamilly, já que nenhum dos integrantes da equipe declarou ter realizado o procedimento.
A técnica de enfermagem disse que atuava na farmácia no dia do atendimento e respondeu que preparou o soro fisiológico com dramin e dipirona, conforme a prescrição médica que recebeu. Ela também foi solicitada para tentar fazer o acesso venoso na criança, sem sucesso.
A CPI tem mais um depoimento marcado para sexta-feira (24), às 8h30. Uma das enfermeiras da UPA foi reconvocada para prestar esclarecimentos
Prédio da UPA Vila Cristina, em Piracicaba
Isabela Borghese/ Prefeitura de Piracicaba
Depoimento de médica
A médica que atendeu a garota informou à CPI que não sabia que a UPA onde fez o atendimento tinha soro antiescorpiônico. O depoimento aconteceu no último dia 17, e as informações foram divulgadas pelo Legislativo.
Segundo a Câmara, a médica relatou aos vereadores que Jamilly estava andando e consciente quando chegou à UPA, mas apresentava quadro de sudorese (transpiração) e vômito, por isso avaliou o caso como grave. Mas não a encaminhou à sala de emergência porque o protocolo da unidade era de que isso precisava ser feito após uma avaliação detalhada do quadro.
A médica informou que prescreveu medicamentos para os sintomas e iniciou procedimentos para a transferência da criança para um hospital.
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Ela também disse ter encontrado dificuldades para requisitar a vaga porque a unidade estaria com o sistema instável e, além disso, não teria conseguido inserir o número do cartão da paciente. Segundo a profissional, a falta de documentos da criança também teria dificultado o procedimento.
Questionada sobre o motivo de não ter prescrito o soro antiescorpiônico para Jamilly, a médica disse que não sabia que havia o insumo na unidade e que teria perguntado para uma pessoa da equipe, que teria informado que não havia o soro.
A profissional de saúde disse que só soube da existência do soro depois que a menina já havia perdido o acesso venoso (entrada por meio de agulha na veia para aplicação de medicação) e a equipe tentava restabelecer.
Segundo a médica, depois disso, outros profissionais de saúde teriam afirmado que também não sabiam sobre a existência do medicamento no local e que o soro fica em uma sala onde ela nunca teria entrado e que nunca teria sido apresentada a ela. A profissional afirmou que prescreveu o soro posteriormente, enquanto Jamilly ainda estava na UPA.
A médica não trabalha mais na UPA. Ela afirmou que se formou em junho deste ano, não é pediatra e prestava atendimento na ala de pediatria como clínica geral. A profissional não tinha experiência em serviços de urgência e emergência.
Criança morre após ser picada por escorpião em Piracicaba
O que dizem prefeitura e OS
Em nota, a OSS que administra a unidade informou o acesso na veia da paciente foi feito após avaliação com a médica, mas esse acesso foi perdido e foram feitas novas tentativas de restabelecê-lo, que não tiveram sucesso devido à desidratação da criança.
A organização social admitiu que foi constatada a existência do soro na unidade após a perda do acesso na veia de Jamilly, quando o Samu já estava no local para realizar a transferência.
“Diante deste contexto, foi em comum consentimento entre as equipes em realizar a transferência imediata da paciente para Unidade de Terapia Intensiva da Santa Casa de Piracicaba, por associar a recursos de alta complexidade e possibilidade de administrar o soro antiescorpiônico”, acrescentou.
A OSS garantiu que “é de conhecimento da equipe que a UPA Vila Cristina é referência para casos de escorpionismo, cabendo ressaltar que a coordenação da unidade havia participado de orientações sobre fluxos de soro”. Também garantiu que os profissionais são treinados para este tipo de atendimento.
“Destacamos, por fim, que é preciso atentar-se que o tempo de atendimento na UPA, considerando a entrada e saída da unidade, foi pouco mais de uma hora, tempo muito menor que interstício da picada e socorro pela família e a permanência na Santa Casa”, finalizou.
A Prefeitura de Piracicaba informou que está à disposição para contribuir com todas informações necessárias para a Comissão da Câmara Municipal e que a gerência da UPA é de responsabilidade da OSS Mahatma Gandhi.
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