Mulher trans diz ter sido chamada de ‘viado’ e ameaçada ao pedir água em show no litoral de SP

Brasil
Situação aconteceu em Santos (SP) após ela ter comprado fichas para trocar por uma cerveja que estava indisponível na casa de shows. A vítima pediu a mudança do produto, que não foi aceita e solicitou água, garantida por portaria publicada pelo Governo Federal em dias de forte calor. Mulher trans (à esquerda) diz ter sido vítima de transfobia ao pedir água em show do cantor Pablo do Arrocha, em Santos (SP)
Arquivo pessoal e Reprodução/Pixabay
Uma mulher trans alegou ter sido chamada de ‘viado’ e ameaçada por funcionários durante o show do cantor Pablo do Arrocha em Santos, no litoral de São Paulo. O xingamento aconteceu após ter pedido água gratuita como garante uma portaria anunciada pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, disse a youtuber Morena Flowers, de 44 anos, ao g1, nesta quinta-feira (23).
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Morena contou ter comprado o ingresso para o Festival Arretado há dois meses e meio e que estava empolgada para assistir ao show do cantor — previsto para começar na madrugada de domingo (19). Ela e duas amigas chegara à casa de show, no bairro Marapé, por volta das 20h30 do último sábado (18) e, segundo a youtuber, logo comprou cinco fichas para trocar por uma cerveja.
Foi ao pedir a primeira bebida que o clima de empolgação deu lugar ao de revolta. Ela contou à reportagem que a casa vendeu cervejas que não tinha à disposição. “Tinha muita gente discutindo, teve até briga”.
Para tentar resolver a situação disse ter pedido às funcionárias a troca das fichas comprada, mas foi informada que elas não tinham autonomia para atendê-la.
Morena então foi indicada a procurar o responsável e, assim que o encontrou, reivindicou a troca das fichas e uma água, momento em que diz ter escutado a seguinte frase: ‘espera aí, viado’.
“Fiquei muito brava com isso. Achei uma falta de respeito gigante. Sou mulher trans, não dou essa liberdade para ninguém”, afirmou.
Ela tentou procurar algum superior, sem mencionar a transfobia, apenas para solucionar o problema da cerveja. “Falaram que não iram trocar, que não peguei a cerveja porque não quis”.
Ao reforçar o pedido de água disse que foi alvo de chacota pelo desconhecimento dos funcionários, além de ter sido ameaçada. “Um cara pegou, virou para o segurança e disse que tinham dois policiais do Baep (Batalhão de Ações Especiais de Polícia) ali”.
Um dos funcionários virou para outro e disse: “Você está com sede? Porque eu não estou. Por que você precisa de água então?”, lembrou a youtuber ao reproduzir o diálogo.
Morena contou que depois disso alguns seguranças se aproximaram e ela, com medo, resolveu ir embora. “Não pude assistir ao show […]. Não foi respeitada a portaria e tomei prejuízo das cinco cervejas. Casa uma custou R$ 14”.
Caso de polícia
A situação vivida a fez procurar uma delegacia e registrar um Boletim de Ocorrência, pois o evento estava desorganizado. “Foi um caos, descaso e humilhação”. O caso foi registrado como injuria racial na Central de Polícia Judiciária (CPJ) de Santos.
Posicionamento
Em nota, a organização do Festival Arretado afirmou que estava ciente da nova portaria e do caso mencionado, inclusive dando toda atenção e cuidado no local. Foi oferecido todo atendimento e inclusive água potável, mas a mesma não quis sair do local para o atendimento.
A organização afirmou, ainda, que segue todos os protocolos e normas, com objetivo de oferecer entretenimento com segurança para todos.
O g1 entrou em contato com o Clube dos Portuários, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Entenda a portaria
Governo Federal determinou que casas de show permitam a entrada de garrafas de água em eventos e que os organizadores ofereçam o líquido em dias de forte calor (imagem ilustrativa)
Érico Andrade/g1
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, anunciou no último sábado (18) uma portaria para permitir a entrada de garrafas de água para uso pessoal em shows no país. Outra medida é obrigar produtores a oferecer água de graça em dias de forte calor.
“A partir de hoje [sábado,18], por determinação da Secretaria do Consumidor do Ministério da Justiça, será permitida a entrada de garrafas de água de uso pessoal, em material adequado, em espetáculos. E as empresas produtoras de espetáculos com alta exposição ao calor deverão disponibilizar água potável gratuita em ‘ilhas de hidratação’ de fácil acesso”, escreveu o ministro.
A medida ocorre após a morte de Ana Clara Benevides, de 23 anos, que passou mal durante o show da cantora Taylor Swift na sexta (17), no Rio de Janeiro. A Secretaria Municipal de Saúde informou que ela foi atendida com uma parada cardiorrespiratória e levada ao hospital. A causa da morte ainda não foi informada. Não está claro se há relação com o forte calor ou com o baixo consumo de água.
A portaria do governo terá validade de 120 dias (vale até 17 de março de 2024) e deverá ser cumprida em todo o país. Na justificativa, o Secretário Nacional do Consumidor, Wadih Damous, afirmou que o objetivo é proteger a “saúde dos consumidores em shows, festivais e quaisquer eventos especialmente expostos ao calor, em períodos de alta temperatura”.
Entre as medidas estão:
Garantir o acesso gratuito de garrafas de uso pessoal, contendo água para consumo no evento, devendo disponibilizar bebedouros ou realizar distribuição de embalagens com água adequada para consumo, mediante a instalação de “ilhas de hidratação” de fácil acesso a todos os presentes, em qualquer caso sem custos adicionais ao consumidor;
Garantir que tanto os pontos de venda de comidas e bebidas quanto os pontos de distribuição gratuita de água estejam dispostos em regiões estratégicas do local evento a fim de facilitar o acesso pelos consumidores, consideradas a estrutura física e a quantidade estimada de participantes;
Assegurar espaço físico e estrutura necessária para assegurar o rápido resgate de participantes do evento, em caso de intercorrências relacionadas à saúde e demais situações de perigo;
A produção deverá assegurar o acesso gratuito de garrafas, contendo água potável para consumo pelos consumidores, devendo fixar os materiais de que tais recipientes podem ser compostos, a fim de garantir a segurança e a integridade física dos participantes
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