De confeitaria a artesanato sustentável: mulheres empreendedoras falam sobre conquistas e desafios na profissão

Brasil
Em comemoração ao Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino, celebrado neste domingo (19), o g1 conversou com três mulheres do interior de São Paulo que decidiram tirar suas ideias do papel e criar seus próprios negócios. Empreendedoras da região de Sorocaba compartilham desafios para realizar seu ‘próprio negócio’
Arquivo Pessoal
Mulheres que decidem empreender precisam passar por muitos obstáculos, entre eles, as barreiras de gêneros e os desafios econômicos. No entanto, a conquista da independência no trabalho serve como incentivo para continuar em frente.
Neste domingo (19), foi celebrado o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino. A data foi lançada em 2014 através da Organização das Nações Unidas (ONU), para que as mulheres recebessem mais visibilidade em seus próprios negócios.
O g1 conversou com três mulheres do interior de São Paulo que decidiram tirar suas ideias do papel, seja pelo desejo de um novo desafio ou pela necessidade de uma renda, e criar seus próprios negócios.
De professora a maquiadora
Ellen ganhou o 1° lugar do prêmio ‘Melhor Serviço de Maquiagem’ de Mairinque (SP)
Arquivo Pessoal
A maquiadora profissional Ellen Fernanda de Camargo Vieira, de 31 anos, começou a empreender em março de 2020, inaugurando uma loja de maquiagens em Mairinque (SP). Porém, nem sempre trabalhou no ramo da beleza.
Embora os cosméticos sempre tenham feito parte de sua vida, Ellen acabou fazendo um curso em outra área: pedagogia. Trabalhou 10 anos como professora de educação infantil e, com o passar do tempo, viu que não se encontrava na profissão.
Portanto, para que seu verdadeiro sonho de se tornar maquiadora e vender os cosméticos desse certo, precisou tomar algumas decisões, incluindo abrir mão de seu antigo emprego.
“Não me sentia totalmente realizada. Apesar de eu gostar muito do ato de ensinar, não me sentia 100% naquilo. Os últimos anos em que trabalhei com isso começaram a afetar até minha saúde; meu psicológico não estava legal. Eu fiquei pré-diabética, pois comia muito doce por conta da ansiedade, então decidi que tinha que tomar um rumo para minha vida. Foi desde então que caí de cabeça no mundo da maquiagem”, conta.
Maquiadora profissional de Mairinque (SP) empreende através de sua loja de maquiagens
Tom Oliveira
No começo, uma de suas maiores dificuldades foi a falta de experiência e, por isso, aprendeu muitas coisas na prática. Além disso, também foi necessário sair do comodismo que a rotina de dar aulas havia lhe proporcionado.
“Vender maquiagem não é tão simples assim; todos os dias é um grande desafio. Tive muita dificuldade em tomar essa decisão. A escola era algo cômodo na minha vida e todos lá gostavam de mim, tanto os pais dos alunos quanto as diretoras”, diz.
Apesar dos desafios enfrentados, a empreendedora diz não se arrepender de nada, e que, após estes últimos anos, sentiu bastante o seu amadurecimento pessoal.
“Passar pelo o que passei e todo o sofrimento fizeram parte da minha jornada, mas não guardo arrependimento, inclusive do tempo em que trabalhei na escola, pois isso fez parte do meu crescimento. A única coisa que sinto falta do meio educacional são os vínculos criados, porque criança é tudo de bom, mas não tenho vontade de voltar.”
Maquiadora profissional de Mairinque (SP) empreende através de sua loja de maquiagens
Arquivo Pessoal
Tanto em seus atendimentos profissionais quanto nas vendas, o que mais deixa Ellen realizada é poder ajudar outras mulheres. Em abril deste ano, ela concorreu ao prêmio “Melhor Serviço de Maquiagem” da cidade, com votação aberta ao público, e conquistou o 1° lugar.
“Isso não tem preço! Esse é meu propósito: ativar outras mulheres levantando a autoestima. E se sentir linda não é só algo físico, mas algo que as faz se sentirem poderosas e confiantes! O propósito é isso, quando uso meu dom para ativar outras pessoas.”
Novo sonho após uma demissão
Mayara Gomes Camargo é confeiteira em Sorocaba (SP)
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Para Mayara Gomes Camargo, de 22 anos, a confeitaria foi onde encontrou seu propósito. Tudo começou aos seus 19 anos, quando trabalhava em uma empresa de telemarketing em Sorocaba (SP) e, com a chegada da pandemia, mais da metade dos funcionários precisou ser desligada, incluindo ela.
Como não era algo que estava contando naquele momento, precisou encontrar uma maneira de seguir em frente, se encontrando na produção de doces.
“Minha cabeça é 100% focada na confeitaria no momento. Foi um encontro cruzado por necessidade, logo quando começou a pandemia. Minha prioridade sempre foi trabalhar para poder viver”, relata.
Jovem de 22 realiza trabalhos de confeitaria em Sorocaba (SP)
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Mayara compartilha que recebe muito apoio de seus amigos e familiares nessa decisão, o que a deixa muito feliz, pois dificilmente tem tempo livre durante a rotina.
“Não tenho folga, nem domingos ou feriados. É até triste dizer ‘não’ quando meus amigos me chamam para fazer algo, mas minha profissão requer que eu esteja presente, principalmente em datas importantes como Natal e Páscoa”, explica.
Um de seus maiores desafios foi lidar com tudo sozinha, pois sentia dificuldade no momento das vendas. Porém, criou uma troca intensa com o trabalho artesanal, fazendo com que tudo valesse a pena.
“Eu faço algo caprichoso com a expectativa que meu cliente goste. Quase todas as vezes, ele adora e me retribui agradecendo, elogiando o produto. Me sinto muito importante em proporcionar isso a ele, em estar presente em comemorações, é surreal! Isso deixa meu coração muito quentinho”, afirma.
Jovem de 22 realiza trabalhos de confeitaria em Sorocaba (SP)
Arquivo Pessoal
Buscando novas técnicas e aperfeiçoamentos, Mayara realiza diversos testes para praticar, até que tudo saia como planejado. “Sempre que posso invisto em cursos”, diz.
“Acho engraçado quem diz ‘fulana tem o dom’, quando na verdade tudo que temos e fazemos é um estudo frenético para proporcionar uma experiência maravilhosa através do paladar”, complementa a confeiteira.
A jovem ainda deixa um conselho para quem deseja trabalhar na cozinha: “Estudem quanto for preciso! Coloquem seus pensamentos em prática. Nenhum bolo fica perfeito de primeira. O clichê ‘a prática leva à perfeição’ é real! Não tenham medo de gastar ingredientes, sua melhor receita está atrás de testes e mais testes”.
“Muito bom ser minha própria chefe”
Isabely de Souza Moraes Silva realiza confecções de ecobags em Alumínio (SP)
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Já em Alumínio (SP), Isabely de Souza Moraes Silva, de 20 anos, é aprendiz administrativa, mas há mais de um ano decidiu começar seu próprio negócio, com a produção de ecobags com pinturas feitas à mão.
O gosto por pintura em tecido já era algo presente em sua vida, pois gostava de personalizar algumas peças de roupa. Até que um dia viu sua mãe ganhar uma bolsa sustentável personalizada e gostou tanto que, futuramente, usou de inspiração para empreender.
“Comecei a colocar a ideia em prática muito tempo depois de ter tido. Em fevereiro de 2022 eu me vi na necessidade de fazer uma renda, pois não tinha oportunidades de emprego. Então pensei muito procurando algo que eu gostasse de fazer, até que lembrei de quando tive esse insight sobre as ecobags, aí comecei a planejar e pegar as primeiras encomendas de pessoas próximas”, diz.
Isabely conta que tudo começou com muitas pesquisas sobre tamanhos de bolsas sustentáveis, fornecedores, tintas, entre outros, e que usou todas as suas economias para investir no início dos trabalhos, mas que tudo valeu a pena.
“É muito bom ser minha própria chefe e poder trabalhar em casa com algo que eu gosto de fazer, além de ter virado uma terapia pra mim. Fico muito feliz quando pessoas me param e perguntam se sou eu que faço as ecobags, quando não acreditam que são pintadas à mão, a quantia de elogios que sempre recebi e o retorno financeiro que ajuda muito no dia a dia”, afirma.
Jovem empreendedora realiza confecções de ecobags em Alumínio (SP)
Arquivo Pessoal
Uma curiosidade sobre as pinturas realizadas a mão é que Isabely nunca fez cursos de arte ou especializações; sua evolução veio da prática, com o passar do tempo.
“Nunca fiz curso de desenho ou de pintura, apenas aprimorei o básico que eu já sabia conforme recebia os desafios de cada encomenda”, explica.
No entanto, um de seus maiores desafios é o tempo e o cuidado para confeccionar os detalhes. “Qualquer erro pode acabar com o trabalho e eu teria que começar novamente em outra ecobag, gerando prejuízo. Cada traço deve ser muito preciso”, conta.
As dificuldades também fazem parte, e a empreendedora menciona que fazer divulgações chegaram a ser uma insegurança. “Até hoje não tenho prática com marketing, mas já tenho uma boa frequência de encomendas”. Porém, receios naturais não impediram a jovem de dar uma dica para mulheres que desejam começar a empreender:
“O sentimento de estar perdida em tudo que é novo em nossas vidas é normal, e a tentativa já é uma conquista. O esforço sempre vai ser recompensado, e não há sensação melhor que o orgulho de ter superado o medo”, finaliza.
Jovem empreendedora realiza confecções de ecobags em Alumínio (SP)
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*Colaborou sob supervisão de Júlia Martins
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