Por que Data Fifa mais prejudica que ajuda clubes e pode ser fiel da balança em reta final do Brasileiro

Esporte
Estrelas de equipes que disputam o título voltam com a necessidade de trabalhos emergenciais por jogarem muito ou mal entrarem em campo O fim da data Fifa é um alento para torcedores ávidos por reverem seus times, mas para os clubes ela tem se tornado um pesadelo. Na reta final do Brasileiro, as equipes recebem de volta algumas de suas estrelas em condições piores do que liberaram, o que pode ser o fiel da balança na disputa do título. Candidatos ao lado de Botafogo, Grêmio e Bragantino, Palmeiras e Flamengo são os que concentram a maior parte do problema e das queixas em relação aos convocados.
O time carioca volta a campo hoje para a partida atrasada diante do Bragantino, enquanto os paulistas jogam no fim de semana, contra o Fortaleza. A realidade, entretanto, se dá nos 14 clubes que reúnem os mais de 30 selecionáveis de novembro. Todos têm seus atletas desnivelados por jogarem demais ou de menos e precisam reequilibrar os estímulos em pouco tempo, sob risco de lesão.
Mesmo com os departamentos médicos monitorando as atividades feitas nas seleções, há uma carga menor de trabalho, sobretudo para não estourar jogadores vindos da Europa, o que mesmo assim acontece, como no caso de Vinicius Junior. Já que não há tempo suficiente para trabalhos individualizados, nivela-se por baixo.
Arrascaeta e Pulgar são exemplos distintos no Flamengo
Os torcedores do Flamengo comemoraram o fato de Arrascaeta ser reserva no Uruguai durante a data Fifa, mas tudo que o meia mais precisava nesse momento era treinar e jogar. Em meio a um processo de recuperação gradual de uma grave lesão na coxa esquerda, o uruguaio chegou ontem de madrugada ao Rio e treinou com o restante dos companheiros para encarar o Bragantino às 21h30, no Maracanã, já que atuou poucos minutos nas partidas das Eliminatórias.
Por outro lado, o volante Pulgar, que jogou quase dois jogos inteiros, foi preservado da atividade mais intensa no Ninho do Urubu. Mais uma vez a abordagem diferente em relação aos dois atletas leva em consideração não só o tempo jogado, mas a carga de treino reduzida quando estão entregues às suas seleções. Como treinou pouco e jogou muito, Pulgar teria alto risco de lesão se não fizesse um acompanhamento de perto, com todos os cuidados. O mesmo vale para Arrascaeta, que poderia ter pelo menos compensado a falta de treinos mais intensos com mais minutos de jogo. Varela também foi chamado pelo Uruguai e desta vez pouco utilizado, mas é reserva.
Essa será a nova chance de o Flamengo provar que pode voltar melhor do que antes da data Fifa. Nas duas últimas isso não ocorreu. Segundo informações, o ex-treinador Jorge Sampaoli apelava nesses momentos para treinos mais intensos e demorados, o que levava jogadores ao esgotamento. Não à toa o clube conviveu no período com uma série de lesões em seus atletas. Coincidência ou não, este problema hoje é praticamente inexistente, mesmo no fim da temporada.
Veiga e Endrick ilustram outro lado no Palmeiras
O Palmeiras, que cedeu quatro atletas, dois deles para a seleção brasileira, é bom exemplo dos dois lados desses efeitos colaterais. O primeiro é representado por Raphael Veiga e Endrick, que por atuarem poucos minutos com o Brasil retornam “destreinados”, com a necessidade de acelerarem trabalhos de intensidade e força, sobretudo o jovem de 17 anos. Gustavo Gómez e Richard Ríos, que jogam mais por Paraguai e Colômbia, respectivamente, pisam no freio no retorno devido ao maior desgaste, e fazem o contraponto do prejuízo da data Fifa. Abel Ferreira se queixou de outro ângulo dessa realidade no Brasil. E tocou no ponto do descanso mental para os atletas na data Fifa, quando os clubes dão mais dias de folga para quem não foi convocado descansar.
— É fundamental nesse períodos ajudarmos os jogadores a baixarem o nível de concentração e ter semanas limpas para recuperar — explicou o português.
Clube com três jogadores convocados, o São Paulo vive problema semelhante com James Rodriguez. Desde que chegou o colombiano não conseguiu ser trabalhado fisicamente para a necessidade do futebol brasileiro, e quando convocado jogou bastante, mesmo sem estar na forma ideal. O técnico Dorival Jr, inclusive, reclamou.
– Quando ele volta não tem a carga de trabalho que a gente vem fazendo na equipe. Leva novamente o processo de acelerarmos um recondicionamento. É o que a gente está lutando até agora – disse o treinador, que também perdeu Arboleda (Equador), Ferraresi (Venezuela) e o trio Beraldo, Pablo Maia e Patryck para a seleção olímpica. O São Paulo ainda enfrenta Flamengo e Atlético-MG e pode ser peça-chave na disputa do título.
Muitas vezes, porém, esse período de convocação é usado pelas comissões técnicas para dar mais carga de trabalho a quem ficou. Nos clubes, entretanto, os relatos são de que não mais o hábito de atividades prolongadas demais. E em vez de o jogador se reequilibrar fisicamente, fica com excesso de carga, e não há tempo para um período de adaptação, o que aumenta mais uma vez os riscos de lesão quando a bola volta a rolar. É nesse contexto que os torcedores interpretam que a data Fifa serviu para piorar o time. As comissões, na tentativa de implementar novas ideias e táticas, desgastam mais as peças. E quando elas vão executar o plano, muitas vezes não há mais perna.
No Botafogo, o goleiro Lucas Perri não jogou um minuto pela seleção e perdeu o início de trabalho do novo técnico, Tiago Nunes, em mais um tipo de prejuízo.
Flamengo mantém base
A equipe que foi preparada por Tite para ir a campo após a data Fifa mantém o mesmo esqueleto. A única dúvida é se Pulgar realmente inicia a partida. De volta após lesão, Allan treinou bem esta semana e está pronto para ser acionado. No ataque, o desfalque de Gabigol pela expulsão no Fla-Flu não interfere na convicção do técnico para manter Pedro como referência e os pontas Cebolinha e Luiz Araújo. Outro retorno esperado na relação é do zagueiro David Luiz, outro que se recuperou de lesão e se recondicionou no período de paralisação.
Com 57 pontos, na sexta posição, o Flamengo tem a última chance de arrancada. Precisará ganhar todos os jogos e ainda torcer para tropeços de Palmeiras, Botafogo, Grêmio e Atllético-MG, que estão na frente. E precisará de seus principais jogadores em plena forma.

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